Minhas percepções sobre o mundo lá de fora e o daqui de dentro

domingo, 2 de maio de 2010

Sobre cintos, guardas e peitos

Estava no trânsito hoje, banco do carona. Minha mãe, dirigindo. Ambas de cinto de segurança. Conversávamos, ríamos. Final de tarde de sábado, indo ao shopping comprar presente de aniversário para meu avô. Mamãe fumava, os dois vidros estavam abertos. O da minha janela, bem aberto. Eu segurava minha bolsa no colo.

Farol vermelho, minha mãe, sempre prudente no trânsito, parou antes da faixa. Primeira da fila. Fila da direita. Continuamos a papear. Enquanto conversávamos, perdi meus olhos nas calçadas - tenho mania de mirar o desconhecido, o cotidiano ao redor. Muita gente me acha distraída, prefiro dizer que sou atenta até demais. De qualquer maneira, lá na esquina, parada, com dois policiais para fora, uma viatura da polícia militar. Ambos homens, os policiais aparentemente organizavam o trânisto e multavam.

Eis que um deles - devo admitir, um bonito exemplar masculino, fez bastante bem aos meus olhos - começa a se encaminhar em direção a nosso veículo. Mamãe e eu paramos de conversar. Mas, como é comum entre mães e filhas, nossa telepatia entrou em ação. Enquanto ela pensava que ele estava vindo em nossa direção para dar uma bronca nela por causa do cigarro, eu imaginava que ele ía puxar minha orelha por causa da bolsa no colo com o vidro aberto.

Talvez não fosse nada disso. Talvez, pensava minha mãe, o policial se encaminhava para multá-la. "Ah, Deus, uma multa. Como se já não bastassem todos os gastos que tenho todos os meses, mais uma multa. Ninguém merece ser multado. Mas meu carro está em ordem. Olha aqui o selinho do Controlar! Será que ele não viu? Claro que viu!"

Minha mente foi ainda mais longe. "Será que é um assaltante disfarçado de policial? Ai, que medo. Em São Paulo, a gente ouve tanta coisa. Mas assim, em plena luz do dia? Não, não é possível. Puuuutz, pode ser que ele pense eu sou uma ladra. Que eu estou sequestrando minha mãe. Nossa, será que a gente tava discutindo e ele viu? Não, acho que não. Não lembro de termos discutido na última hora. Shi, já tô viajando."

Claro que toda essa cena, do terceiro parágrafo deste texto para frente, aconteceu em pouquíssimos segundos. Com certeza, menos de um minuto. Era como um filminho em câmera lenta. De repente, eis que o policial chega para matar nossa curiosidade.

"Boa tarde, senhoras"
"Boa tarde" - respondemos em uníssono
"Tudo certo com o carro?"
"Sim" - mamãe respondeu rapidamente, lembrando em tudo o que tinha passado pela sua mente, enquanto escondia disfarçadamente o cigarro.
"Olha", começou o guarda dirigindo-se a mim, enquanto minha auto-estima levemente apareceu e sussurrou internamente que ele estava flertando. "Gostaria de orientá-la. Seu cinto de segurança está colocado errado."

Combinando minha auto-estima alta com o fato de minha mãe odiar usar cinto, imediatamente olhei para ela. Ele continuou:
"Não o dela, o seu"
Caí do cavalo.
"O meu? Por quê?"
"Veja, muitas mulheres usam o cinto como você porque eu sei que incomoda por causa do..., dos..." (enquanto isso a mão do guarda fazia uma leve mímica de morro, montanha ou algo do gênero). Eu e mamãe, italianas de descendência, desengasgamos o guarda:
"Dos seios" - disse eu.
"Ah, senhor guarda, é que ela acabou de passar por uma cirurgia mamária", completou minha mãe.

Pronto, agora o assunto eram os meus peitos. Eu, minha mãe e o guarda discutindo sobre os meus seios. Que maravilha.

"Sim, sim", voltou o senhor guarda. "Claro. Mas, veja bem. Se você sofrer um acidente, o cinto, da maneira que colocou (estava acima do busto e não em cima) quebra o seu pescoço".
"Credo, seu guarda, quebra meu pescoço? Que horror! Nossa obrigada por me alertar". E já fui corrigindo o tal cinto. Mamãe não se conteve e, como a aluna mais aplicada da sala, emendou:
"Ah, seu guarda, o meu está certo, né?"
"Sim, muito bom, o da senhora está perfeito."
E ela sorriu como uma aluna nota dez. Agradecemos ao guarda e o sinal abriu.

"Legal a polícia fazer isso"
"É. E bonito o guarda, não?"
"Pois é, lindo, menina"
"Devia colocar a história no seu blog"
(Risos)

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Esta história é uma crônica baseada em fatos reais, mas com vááááárias licenças poéticas. De qualquer maneira, agradeço ao policial que me ensinou a usar o cinto de segurança corretamente e à minha mãe que, além da carona, me deu a idéia de escrever sobre o "causo". 

2 comentários:

  1. Eu sou bem aplicada mesmo...rsrsr.
    Mas valeu... embora o guarda fosse um pouco exagerado.

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  2. É verdade, mãe, vc foi a aluna nota dez. E eu, repetiria de ano... kkkk

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